Existem quase 500 substâncias bioativas nos alimentos capazes de influenciar no surgimento da doença. Aprenda a usar as principais em seu favor.
O câncer é um conjunto de doenças que tem como característica a multiplicação desregulada das células de um determinado órgão. “Elas passam a crescer de forma desorientada e incontrolável, culminando na formação de nódulos e massas”. A cada ano surgem aproximadamente 520 mil novos casos da doença no Brasil. Os tipos mais comuns são os de próstata (nos homens), os de mama (nas mulheres) e os de pele não melanoma, que é menos grave e atingem ambos os sexos na mesma proporção. Já as causas da doença, como se sabe, são multifatoriais. Isso significa que até podem haver questões hereditárias na jogada, mas o estopim do câncer também podem ser hábitos de vida (como o tabagismo), infecções (como HPV, no caso do câncer de colo de útero), fatores ambientais (como exposição aos raios solares) e – finalmente – a alimentação.
A relação entre a alimentação e o câncer esbarra em pontos diversificados. No livro A Verdadeira Dieta Anticâncer (Editora Lua de Papel), por exemplo, o médico David Khayat lembra que há pelo menos 500 substâncias bioativas nos alimentos que possuem ação sobre a doença, seja estimulando ou inibindo o seu crescimento. Entre as que são capazes de “ativar” os genes que freiam a multiplicação celular desgovernada, podem ser citadas o sulfeto dialil, encontrado no alho, e no sulforafano do brócolis. Um segundo aspecto diz respeito a danos celulares. É o caso dos radicais livres, que são resultado do processo natural de respiração e podem “machucar” as células. Contra eles, a saída são alimentos antioxidantes. Por fim, é importante citar que as toxinas não eliminadas que se acumulam pelo organismo provocam desordens metabólicas. A lista inclui agrotóxicos usados nas plantações e – quem diria – certos peixes marinhos, como espadarte, atum vermelho e cação, que ficam vulneráveis à contaminação por poluentes.
É possível, então, uma dieta anticâncer? A resposta é sim. “A Word Cancer Reserch Fund (WCRF) preconiza a ingestão de vegetais, cereais integrais e sementes e oleaginosas, assim como a redução de embutidos e produtos industrializados”. Entretanto, vale destacar que um cardápio anticâncer também deve ser personalizado. O motivo é que o metabolismo de cada pessoa reage de forma diferente a determinados alimentos. Um bom exemplo e uma pesquisa da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, que revelou que o suco de laranja é rico em psoraleno – substância que pode ser cancerígena no contato com o sol. Seu consumo excessivo poderia, então, estimular a formação de melanomas em pessoas claras, mas não representaria maiores riscos para que tem a pele morena. Já homens fumantes que tomaram suplementos de betacaroteno – substância presente na manga e na cenoura – tiveram um risco aumentado de desenvolver câncer de pulmão. Sendo assim, exagerar nesses alimentos também poderia representar um risco para essa parcela específica da população.
MITOS DAS CARNES
O peixe é rico em ácidos graxos e ômega 3, que previnem o câncer. Entretanto, os produtos do mar são campeões em contaminação por poluentes, que podem ser cancerígenos. “A saída é consumir peixes de localidades menos poluídas. Estudos comprovam que com exceção do cação, os outros se encontram dentro dos limites toleráveis de quantidades de mercúrio”. Já as carnes – quando gordurosas e em excesso – apresentam riscos. Mas se consumidas em cortes magros e na quantidade de 300 g por semana, elas são parceiras da dieta. “A carne é rica em ferro, contém proteínas de alto valor biológico, é fonte de zinco e vitaminas A, D, E e K”.
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Suplementação nutricional, alias, está longe de ser uma boa para prevenir o câncer. Ao contrario, estudos científicos apontam que o excesso de ferro e de vitaminas E podem estimular a doença. “A suplementação não é recomendada. O que é indicado é a ingestão de alimentos ricos em nutrientes antioxidantes”. Portanto, nada de apostar em suplementos nutricionais por conta própria; procure sempre a orientação de um profissional de nutrição.
O açúcar é outro alimento polêmico. Não há evidência alguma de que ele seja cancerígeno, entretanto, o perigo esta na predisposição da pessoa à obesidade. “O quadro aumenta o risco de cânceres de mama, cólon e pâncreas. Mas isso não significa que o alimento deva ser excluído do cardápio, e sim consumido de forma moderada”. A seguir, conheça sete alimentos considerados campeões de prevenção de câncer pelos especialistas da área.
Apostar em uma alimentação equilibrada e rica em substâncias antioxidantes, além de ficar atenta no modo de preparo dos alimentos, é o caminho para prevenir o aparecimento do câncer.
Pigmento amarelo extraído da planta Cúrcuma longa, previne cânceres de colón. “A cúrcuma inibe a enzima cicloxigenase e outras envolvidas no processo inflamatório. Além disso, possui atividade antitumoral e antimutagênica”. Utilize-o como tempero no dia a dia ou em cápsulas. “A suplementação com a planta mostrou-se segura, e doses de até 8000 mg por dia são toleradas pelo organismo”.
A estrela aqui são os compostos indóis, substâncias antioxidantes também encontradas no brócolis, couve-flor e repolho. “A ação anticâncer se deve ao rearranjo do composto indol dentro do organismo, como o indol-3-carbinol. Ele atua na fase 2 de desintoxicação no fígado, ou seja, estimula a eliminação de toxinas e de potenciais agentes mutagênicos”. “ O indol-3-carbinol também inibe a ligação de carcinógenos ao DNA. Ele atua como agente protetor, principalmente de cânceres induzidos por hormônios, como colo de útero e de mama, vinculados ao estrógeno”. O ideal é consumir 30g de couve para atingir as necessidades diárias de indol-3-carbinol.
É rica em propriedades antioxidantes. O destaque vai ainda para o resveratrol, que é um polifenol encontrado na casca das uvas rosadas. Esse é o motivo de o vinho tinto e o suco de uva integral serem duas poderosas armas contra os radicais livres. “A substância tem ainda ação anti-inflamatória, induz à morte celular programada e ainda estimula as enzimas de fase II do fígado, aumentando a excreção de produtos tóxicos”. O ideal é consumir, diariamente, dois cachos pequenos da fruta ou dois copos (250ml) do suco integral.
Possui licopeno, carotenoide que previne, sobretudo, o câncer de próstata, mama e fígado. “Ele é solúvel em gorduras, ou seja, para o organismo absorve-lo melhor, o ideal é que seja ingerido na forma de molho de tomate caseiro com azeite”. O licopeno ainda é mais bem absorvido quando aquecido. Entretanto, fique atenta: o tomate está na lista dos dez alimentos mais contaminados com agrotóxicos, segundo o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para). Assim, o ideal mesmo é consumir apenas tomates orgânicos.
Especialistas indicam, ainda, a ingestão de 30 mg/dia de licopeno para prevenir câncer de próstata. Como cada unidade possui apenas 3,3 mg do composto, o ideal é incluir no cardápio outros alimentos ricos na substância, como acerola, goiaba e damasco.
Fitoquímicos encontrados na romã induzem à morte das células cancerígenas na próstata. “Por esse motivo, o consumo da fruta consegue diminuir os níveis das enzimas PSA no sangue, que funcionam como sinalizadoras de tumores”. O alimento também tem ação preventiva nos cânceres de pele, cólon, mama, cavidade oral e leucemia. A romã é ainda rica em ácido elágico, que possui função antioxidante e protege as membranas e o DNA da ação de radicais livres. “Pessoas que consomem acido elágico apresentam possibilidade três vezes menor de sofrer de câncer do que aquelas que consomem pouco ou nenhum”. É indicado consumir pelo menos 1 copo do suco ou duas unidades da fruta por dia.
A genisteína – isoflavonoide encontrado na soja – afeta a progressão do câncer de ovário, atuando na chamada morte celular programada na progressão do ciclo celular. “A genisteína também inibe radicais livres, que estão envolvidos direta ou indiretamente em todas as fases do câncer”. A quantidade diária de soja recomendada para atingir as necessidades de genisteína é de 1 e ½ xícara de proteína de soja.
A bebida conta com epigalocatequina galato (EGCG), uma substância antirradicais livres que tem ação preventiva. “Esse polifenol estimula o sistema da defesa antioxidante, induz à morte celular programada, suprime a proliferação celular e inibe a angiogênese (crescimento de novos vasos sanguíneos que alimentam o tumor)”. O ideal é consumir de 6 a 8 xícaras de chá verde para blindar o organismo contra a doença. E a bebida precisa ser elaborada com a erva in natura, que é mais poderosa do que os chás de saquinho ou industrializados.
- - Passe longe do cigarro;
- - Procure descobrir se o atum e o salmão comprados vêm de águas limpas;
- - Dê preferência aos alimentos orgânicos;
- - Evite churrascos e frituras;
- - Frutas secas têm antioxidantes concentrados. Invista nelas!
- - Diga não às salsichas e demais embutidos. Eles são ricos em gorduras, nitratos e corantes.
FUMAÇA PERIGOSA
Um alimento pode ganhar “poder cancerígeno” devido a sua forma de preparo. Esse é o caso da carne quando assada como churrasco. “A queima do carvão libera substâncias químicas chamadas aminas heterocíclicas aromáticas e hidrocarbonetos, que impregnam no alimento. Elas têm alto potencial carcinogênico, principalmente para câncer de estomago e intestino”. Contra o problema, aposte nos ensopados ou pré-cozinhe a carne, levando á grelha só para dar cor. Isso tudo sem óleos vegetais, claro, já que a fumaça do processo de fritura também é prejudicial.
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Fonte: Revista Pense Leve
